Só faltam 06 sessões para acabar essa primeira fase do tratamento. Depois disso vou descansar 30 dias e retorno para a segunda fase, que terá uma duração de dois anos, com o uso apenas do Temodal, a princípio mais tranquila.
Vou retornar às minhas atividades normais, entrarei em um programa específico de reabilitação física para recomposição da massa muscular, e de leve dar um grau na silhueta, pois fiquei com um pouco de barriga.
Quando resolvi escrever esse BLOG tinha como um dos objetivos passar minhas experiências para quem quisesse ler mundo afora, e também avaliar o quão seria mais fácil ou difícil encarar essa nova etapa da minha vida.
Passei por vários momentos de engasgos ao longo desses quase 60 dias, aliás ainda passo, mas estou me acostumando com essa doença e suas mazelas, com a ideia de que ainda não tem cura, que se briga por uma sobrevida e que a medicina está em evolução para esticar ainda mais essa sobrevida, quem sabe até encontrar a cura. Assim como o sucesso da cirurgia, poder passar para uma primeira fase do tratamento e estar prestes a passar para a segunda são conquistas na luta contra essa doença.
Algumas coisas que vivi durante esse período ficaram registradas em minha memória, a começar por ver meu filho pronto para me carregar para a maca, antes da cirurgia. Pensei: puxa, carreguei esse menino por anos e agora é a vez dele. Depois, ver minha filha resolvendo todos os meus assuntos administrativos e aqueles junto à Cia Seguradora - nunca pensei em me ver assistindo literalmente aos acontecimentos. Ver minha esposa descer à posição de minha babá ao longo desse período, não coloquei na boca sozinho um comprimido sequer. Ver minha irmã vir várias vezes a São Paulo trazer comida especialmente feita por minha mãe para minha recuperação. Aliás, por falar nela, uma das coisas mais dificeis foi dar conhecimento à minha mãe do que se passava comigo, ela ainda é uma pessoa lúcida (apesar da idade), e nos primeiros momentos o que tinha na cabeça era que a minha sobrevida seria no máximo de 12 a 15 meses. Parecem ser coisas simples, mas além de demostrarem o carinho e amor de todos por mim, foi a minha primeira experiência de dependencia total de outras pessoas.
Eu já falo sem maiores constrangimentos sobre minha situação, mas ainda tenho emoções. Vejo que existem outras pessoas em situações mais delicadas e algumas muitas vezes injustiçadas - não sei por quem, - como é o caso das crianças que vi sendo tratadas de câncer.
No início, quando tomei conhecimento da minha doença, as estatísticas de sobrevida me apavoraram. Fiquei arrasado, indignado, revoltado, achava que ainda tinha muita coisa a fazer por aqui, e me perguntava por que eu estava nessa situação. Aos poucos, com o melhor esclarecimento do meu caso junto aos médicos e das informações disponíveis na net sobre as estatísticas de sobrevivência, fui reavaliando meu processo e hoje tenho a certeza de que, com acompanhamento e controle, eu posso viver a minha vida.
Para chegar aí, primeiro precisei passar pelo medo da morte, depois pela minha própria avaliação do que vim fazer por aqui, para depois ficar indiferente ao que pudesse me acontecer. A avaliação do que fiz durante meus anos de vida foi importante para chegar a essa indiferença: meus filhos estão criados, foram bem educados por nós, são pessoas de caráter, tem vida própria; minha esposa, na minha falta, tem capacidade de prosseguir sem nenhuma dificuldade. Disse aos meus familiares e filhos que ela deveria buscar outro parceiro, quando se sentisse à vontade. Também ajudo outras pessoas a sobreviverem, de modo que tenho uma boa avaliação do que fiz por aqui.
Espero que as coisas evoluam bem, que meu cabelo cresça novamente e que a medicina continue evoluindo a passos largos para que, em breve, possa dizer que estou curado.