sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

INDO PARA CASA

Só faltam 06 sessões para acabar essa primeira fase do tratamento. Depois disso vou descansar 30 dias e retorno para a segunda fase, que terá uma duração de dois anos, com o uso apenas do Temodal, a princípio mais tranquila.
Vou retornar às minhas atividades normais, entrarei em um programa específico de reabilitação física para recomposição da massa muscular, e de leve dar um grau na silhueta, pois fiquei com um pouco de barriga.
Quando resolvi escrever esse BLOG tinha como um dos objetivos passar minhas experiências para quem quisesse ler mundo afora, e também avaliar o quão seria mais fácil ou difícil encarar essa nova etapa da minha vida.
Passei por vários momentos de engasgos ao longo desses quase 60 dias, aliás ainda passo, mas estou me acostumando com essa doença e suas mazelas, com a ideia de que ainda não tem cura, que se briga por uma sobrevida e que a medicina está em evolução para esticar ainda mais essa sobrevida, quem sabe até encontrar a cura. Assim como o sucesso da cirurgia, poder passar para uma primeira fase do tratamento e estar prestes a passar para a segunda são conquistas na luta contra essa doença.
Algumas coisas que vivi durante esse período ficaram registradas em minha memória, a começar por ver meu filho pronto para me carregar para a maca, antes da cirurgia. Pensei: puxa, carreguei esse menino por anos e agora é a vez dele. Depois, ver minha filha resolvendo todos os meus assuntos administrativos e aqueles junto à Cia Seguradora - nunca pensei em me ver assistindo literalmente aos acontecimentos. Ver minha esposa descer à posição de minha babá ao longo desse período, não coloquei na boca sozinho um comprimido sequer. Ver minha irmã vir várias vezes a São Paulo trazer comida especialmente feita por minha mãe para minha recuperação. Aliás, por falar nela, uma das coisas mais dificeis foi dar conhecimento à minha mãe do que se passava comigo, ela ainda é uma pessoa lúcida (apesar da idade), e nos primeiros momentos o que tinha na cabeça era que a minha sobrevida seria no máximo de 12 a 15 meses. Parecem ser coisas simples, mas além de demostrarem o carinho e amor de todos por mim, foi a minha primeira experiência de dependencia total de outras pessoas.
Eu já falo sem maiores constrangimentos sobre minha situação, mas ainda tenho emoções. Vejo que existem outras pessoas em situações mais delicadas e algumas muitas vezes injustiçadas - não sei por quem, - como é o caso das crianças que vi sendo tratadas de câncer.
No início, quando tomei conhecimento da minha doença, as estatísticas de sobrevida me apavoraram. Fiquei arrasado, indignado, revoltado, achava que ainda tinha muita coisa a fazer por aqui, e me perguntava por que eu estava nessa situação. Aos poucos, com o melhor esclarecimento do meu caso junto aos médicos e das informações disponíveis na net sobre as estatísticas de sobrevivência, fui reavaliando meu processo e hoje tenho a certeza de que, com acompanhamento e controle, eu posso viver a minha vida.
Para chegar aí, primeiro precisei passar pelo medo da morte, depois pela minha própria avaliação do que vim fazer por aqui, para depois ficar indiferente ao que pudesse me acontecer. A avaliação do que fiz durante meus anos de vida foi importante para chegar a essa indiferença: meus filhos estão criados, foram bem educados por nós, são pessoas de caráter, tem vida própria; minha esposa, na minha falta, tem capacidade de prosseguir sem nenhuma dificuldade. Disse aos meus familiares e filhos que ela deveria buscar outro parceiro, quando se sentisse à vontade. Também ajudo outras pessoas a sobreviverem, de modo que tenho uma boa avaliação do que fiz por aqui.
Espero que as coisas evoluam bem, que meu cabelo cresça novamente e que a medicina continue evoluindo a passos largos para que, em breve, possa dizer que estou curado.

3 comentários:

  1. André Luiz,
    Esse foi uma das suas postagens mais bonitas. Sempre disse que atrás dessa sua armadura existiamuma pessoa muito sensível e que tinha medo de se mostrar. Agora esse medo já não existe mais e estamos vendomrelatos cada vez mais densos e tocantes. Fiquei muito emocionada. Vou mostrar a nossa mãe esse seu depoimento. Você ainda tem muito o que fazer este mudo meu irmão. Tenho certeza disso e torço por sua recuperação. Que ela venha dia após dia. Um boa vitöria se faz de pequenos triunfos e vamos vencer juntos.
    Te amo cada dia mais.
    Sua irmã

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  2. André
    A frase "...na alegria e na tristeza..." define uma boa união. Vimos compartilhando da mesma emoção, deflagrada pela surpresa e apreensão desde que tivemos a notícia de Dino. Foi um impacto muito forte que nos deixou perplexos, pois percebemos o quanto somos frágeis e suscetíveis. Tudo aconteceu muito rápido e era necessário ter a iniciativa e adotar atitudes corretas, rápidas, como vocês vem fazendo e administraram de forma extraordinária esta situação. Damos graças a Deus por você ser um homem forte, determinado, com muita personalidade, lucidez e superação. A soma de todas essas qualidades vai promover a sua inclusão no grupo das estatísticas positivas.
    Dois meses é muito tempo e você deve estar com muita vontade de voltar e curtir o aconchego de sua casa. Estamos torcendo para que tudo dê certo e que isso ocorra o quanto antes. Quando retornarem aplacaremos nossa saudade e faremos aquele jantar que combinamos, ok?
    Vamos em frente!
    Amamos você.

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  3. Meu amigo, desculpe a ausência, estávamos viajando. Mais uma vez seu novo texto me emocionou muito! Uma emoção que passa muito pela felicidade de ver o quanto voce é bonito por dentro, despidas todas as cascas, com as quais, mantinha escondida esta pessoa sensível que, sem nenhum pudor, mostra uma sabedoria e um entendimento dos mecanismos e movimentos que a vida dispõe para nos surpreender e ensinar. Felizes, os que, como voce, têm olhos para enxergar e coração para sentir. Sua determinação e fé nos contaminam. Sua gratidão pelo que conseguiu através de muita luta e troca de amor, só é possivel em pessoas maduras e já evoluídas espiritualmente. A vida, que hoje voce duvida da continuidade, foi pródiga não só materilmente como lhe cercou de um campo de força construído de amor de verdade e aceitação incondicionais, esteja voce como estiver,fosse voce quem fosse. Sei que conta com o amor da sua familia e quero que saiba que, muito mais que a nossa amizade, a admiração que sentimos por voce e a minha em particular, nem sei mas como qualificar. Voltem logo para casa, amigos queridos! Estamos lhes esperando de braços e corações abertos para, juntos, enfrentarmos todos os momentos que a vida quer que compartilhemos.
    Estou adorando este novo André que está chegando.Acredito que um dia lhe abraçaremos definitivamente curado. Realmente, há tempo para tudo, inclusive para reaprender a ser feliz e a confiar na força da vida.
    Beijos
    Alice

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